A vida se transformou numa frenética corrida. Corremos para tudo: para pegarmos o ônibus, para chegarmos logo em casa, para resolvermos algo, para apressarmos um projeto, para mexermos no celular. As famílias da atualidade, pelo menos na grande maioria dos lares, se tornou o reflexo dos padrões em que o mundo se encontra: um padrão desgovernado, com total inversão de valores.
Creio que cada família em especial tem o seu modo de se relacionarem, não cabendo aos de fora ditarem as regras daquilo que é certo ou errado, pois todos temos um padrão de normalidade; ou seja, um jeito todo peculiar de tratamento entre si. Bom, a questão em foco que quero abordar ainda não é esta, porém, vamos um pouco mais além do que estou tratando agora.
Vejamos: Em meio a esta correria que a vida nos impõe, como andam nossos relacionamentos familiares? Será que dizemos uns aos outros: "Eu te amo"? Com que frequência, ainda que cansados da rotina estressante do mundo, temos priorizado estar junto a nossos filhos, seja brincando, saindo, ou mesmo, conversando? Com relação ao nosso cônjuge: temos abraçado, elogiado, apoiado, consolado? Os problemas nos afastam ou geram combustível para amar ainda mais?
Este discurso que faço surgiu porque olhei para a minha vida, para a vida de meu filho e de minha esposa, e analisei aonde tenho errado como pai e esposo, e o que preciso fazer para, constantemente, melhorar. Mas, seja homem ou mulher, todos temos nossas parcelas de responsabilidades com o lar. Não é algo que diz respeito somente a um dos cônjuges, mas aos dois.
Sobre errar, todos erramos. Todos cometemos erros, e, não estou defendendo um discurso hipócrita como se eu fosse o melhor e mais que perfeito exemplo de pai e esposo a ser seguido; porém, a diferença entre continuar a errar e viver, de fato, a mudança, e é bom que fique claro que a gente vai errar, porém, é possível minimizar os erros, estar justamente no fato de querê-la todos os dias e trabalhar para este fim.
Meu filho, neste ano de 2021, completou três anos. Depois de um dia cansativo de trabalho, afora o tempo que ficava no trânsito, assim que chegava em casa, ele dizia com uma alegria radiante: "Papai, vamos brincar!". Aí já viu: brincávamos de carrinho, de luta, tocávamos instrumentos juntos, desenhávamos, e não parava por aí, pois havia momentos que nos divertíamos até mesmo de cavalinho e encenávamos a história de Davi e o gigante. Ah, quem você acha que era o cavalinho e o gigante que apanhava, levando uma pedrada?
Sabe, é justamente sobre ser um pai e mãe presente que estou abordando aqui. Eu não quero ter que correr atrás do tempo perdido por não ter feito aquilo que estava ao meu alcance fazer. Até porque, tempo que passou não volta. Já ouviu aquela expressão: "Amanhã pode ser tarde demais?". Para eu não ser inserido nesta frase, preciso fazer a minha parte agora, antes que seja realmente tarde.
Nos versos acima, falei sobre o fato de priorizar estar junto a nossos filhos. Hoje, na era da tecnologia, muitos pais perdem um precioso tempo no celular, como muitas vezes, também perdi, e sigo lutando contra o fato de negligenciar a atenção que meus filhos requerem de mim. Sim, digo lutando e me esforçando, porque venhamos e convenhamos: é fácil demais se distrair e pôr o nosso foco no que realmente é importante. Por isso, preste atenção em você e policie-se.
Quero contar uma pequena história da minha própria vida. Se algum pai ou mãe diz que não tem tempo para seu filho, continue lendo esta carta até o fim. Não quero, com isto, lhe apontar o dedo, julgando aquilo que você faz ou deixa de fazer, mas levá-lo (a) a refletir sobre o tempo que você tem dedicado a sua posteridade.
Veja: Há anos atrás, minha mãe trabalhava numa empresa no Centro do Rio de Janeiro, Capital. Todos os dias ela saia de casa as 6:00hs e me deixava na escola as 7:00hs. Pegava o ônibus e chegava no trabalho às 10:00hs. Na volta, saindo às 19:00hs, não tinha horário fixo para chegar, pois na maioria das vezes, o trânsito dificultava. Seu horário variava entre 23:00hs às 00:00hs. Detalhe, ela ainda passava na minha avó pra me levar pra casa. Às vezes meu pai chegava mais cedo e o processo se repetia.
Com relação a meu pai, também muito trabalhador, sustentando sua família, foi muito presente na minha educação. Ele acordava às 3:00hs para trabalhar. Lembro-me que, nesse mesmo horário, eu tomava café com ele. Não era sempre mas, vez ou outra, lá estava eu e meu pai tomando o café da madrugada. Bom, como ele chegava tarde e acordava muito cedo, não dava pra brincar comigo a essa hora; porém, nos finais de semana, me levava pra andar de bicicleta e passava mais tempo comigo.
Não poderia deixar de citar que minha mãe, vez ou outra, depois de me buscar na minha avó, eu estando acordado, ainda tirava tempo pra brincar de cavalinho comigo, já tarde da noite. Digo acordado, pois, na maioria das vezes, ela me levava pra casa dormindo no colo. Quero aqui agradecer a Deus por toda boa dádiva (Tiago 1.17) e a meus pais por tudo que fizeram e ainda fazem por mim e minha família. Obrigado mãe. Obrigado pai. Quem convive com vocês, com toda certeza, pode dizer: Deus existe e é bom. Os amo muito! Agradeço também aos meus avós e minha tia que, pacientemente, cuidaram de mim, influenciado-me positivamente e conduzido-me no caminho correto. Amo demais vocês!
É bom saber que nossos filhos refletirão nossas atitudes, quer sejam boas, ou a nossa indiferença para com eles. Este assunto é realmente algo seríssimo a ser abordado. Quantos filhos estão se sentindo sós, enfrentando processos difíceis de lidar, seja espiritual ou emocional, porque os pais não foram ou não estão sendo um abrigo onde esses filhos possam descansar? Como você imagina que será a próxima geração: sarada ou doente? Bom, isto vai depender do que plantamos, agora, na vida de nossas crianças. Lembre-se: a colheita do futuro reflete o que plantamos no presente.
A verdade é que não posso ser egoísta a ponto de fazer somente a minha vontade, vendo meu filho morrer emocionalmente, precisando de carinho e da minha atenção. Eu preciso enxergar suas necessidades como ser humano e filho que é, e supri-las. Se por um acaso você não tem sempre seu filho ou filha por perto, assim que tiver contato com ele (a), faça o melhor e divirta-se ao máximo. Seja o melhor pai e a melhor mãe que puder ser. Faça a diferença! Estar longe ou perto é muito relativo. Até porque existem pais presentes que são ausentes, e pais distantes onde o laço familiar fala alto. O que vai realmente contar é justamente o grau de importância que você dá ao seu filho (a).
Ser pai e ser mãe é um aprendizado diário. Acertamos muitas vezes, mas, erramos muito também. Não existe pai ou mãe perfeitos. Existe empenho e estudo, por parte dos pais, para entender cada fase da criança. Muitas vezes nos frustramos, sentindo-nos os piores pais do mundo. Porém, numa relação, é preciso entrega, cuidado, carinho e disposição para continuar seguindo em frente e amando nossos filhos e dedicando-se a eles. Preste bem atenção: O reflexo de nossa entrega diária hoje será uma recompensa para nós no futuro, quando vermos o fruto do nosso trabalho exteriorizado em abundância, alegria e propósito na vida de nossos filhos.
Graça e paz!