Novo nascimento
João 3.3: "Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus". (ACF)
Muito se tem dito a cerca do novo nascimento e, creio, que ao menos uma vez, você já deve ter ouvido essa mensagem; porém, não pretendo ser enfadonho na abordagem teológica, mas, objetivo, de forma a trazer edificação a sua vida.
Para entendermos melhor esse texto, precisamos saber quem era Nidocodemos e nos atentarmos para algumas palavras chave aqui descritas. Elas nortearão a ideia daquilo que Jesus quis dizer, tanto para Nicodemos, como, para nós, a igreja, hoje.
Diz a própria Palavra que Nicodemos era príncipe dos Judeus. Em outras traduções diz: "principais dos judeus". (João 3.1) A palavra traduzida por príncipe significa: [O primeiro ou o mais notável em talentos ou noutros méritos]. Nicodemos não era qualquer pessoa; mas alguém muito respeitado, admirado, conhecido e com um conceito elevado perante o povo.
Beacon diz: "Se algum homem, na ordem antiga, conheceu o significado de Deus e dos seus planos e propósitos para o homem, esse foi Nicodemos — ele era profundamente entranhado na tradição monoteísta, além dos ensinos da lei, da história de Israel e das proclamações dos profetas. Mas em algum lugar, de alguma maneira, ele se perdera no caminho, e de alguma maneira exemplificava o que havia acontecido com o judaísmo. Assim, uma vez mais, João estabelece um vívido contraste entre a antiga aliança, com todos os seus mal-entendidos, as suas inadequações e suas falhas, e a nova aliança, que assegura a abundância da vida, que tem o Deus vivo e verdadeiro como a sua Fonte".
A Palavra também diz que Ele era Fariseu, pois era membro de um grupo religioso judaico caracterizado pelo estrito cumprimento da lei mosaica (a Toráh); ou, os cinco primeiros livros da Bíblia. "Os fariseus eram um grupo religioso que procuravam observar todo o Antigo Testamento, e ao mesmo tempo suas interpretações puramente humanas. Para eles, a salvação consistia na obediência à letra dessas leis e regras. A sua religião era exterior na sua forma, e sem qualquer piedade interior." (Mateus 23.25)
Porém, estudando mais a fundo sobre os fariseus, descobri que nem todo fariseu era hipócrita. Segundo relatos de estudiosos, "A tradição talmúdica descrevia sete categorias de fariseus [....]; e somente um grupo dos sete tinha fama de agir sem escrúpulos". Fonte: (Quem é quem na Bíblia sagrada, pág. 213. Tema: Fariseus) A esse grupo de fariseus, disse Jesus: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina (roubo) e de intemperança (corrupção)". (Mateus 23.25 ACF)
Nicodemos não fazia parte dessa classe Hipócrita de fariseus. Uma prova disso é que enquanto outros fariseus batiam de frente com Jesus, até mesmo dizendo que Ele "expulsava demônios por Belzebu, príncipe dos demônios" (Mateus 12.24), o próprio texto em questão, nos mostra Nicodemos indo de noite, ter com Jesus. Sim, este homem bem conceituado entre os homens, e que dominava a Toráh, ainda que apenas na observância da letra, este que era mestre em Israel, pois o próprio Jesus assim o chama (João 3.10); este homem, de alguma forma, sentiu-se atraído em seu interior pelo ensino e os sinais que Cristo fazia (João 3.2),
Eu quero abrir um parênteses nessa mensagem para dizer que muitas vezes, o milagre é a isca que atrairá o pecador e o levará, posteriormente, a crer. Foi o que Jesus, em certa ocasião, disse a um oficial do rei, quando este pediu Sua ajuda para que curasse seu filho, pois estava quase morrendo: "[...] Se não virdes sinais e milagres, não crereis" (João 4.46-48 ACF); então declarou: "Vai, o teu filho vive" (João 4.50); e diz a palavra que: "[...] o homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e partiu". (João 4.50 ACF)
Nós, a igreja, precisamos clamar a Deus para que seus dons sejam manifestos entre nós. A igreja necessita do poder do alto. Poder para transformar o nosso interior (João 7.38); poder para manifestar o Reino de Deus (1 Coríntios 2.4); poder e autoridade do céu para combatermos o mal (Efésios 6.10-13). A igreja precisa clamar e Jeremias 33.3 confirma essa palavra: "Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes". (ACF)
Voltando ao assunto em questão, perceba, que não era apenas Nicodemos que demonstrou um certo interesse pelo mestre. A expressão "[...] sabemos que és mestre [...] João 3.2", diz respeito a um grupo de Judeus que aguardam a salvação de Israel pelo intermédio do Messias; mas, ao que parece, apenas Nicodemos foi o porta-voz daqueles que precisavam solucionar suas possíveis dúvidas a respeito de quem era, de fato, Jesus.
Nicodemos, então, continua: "[...] porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele". ( João 3.2 ACF)
Jesus, como um excelente mestre que é, dá uma resposta fantástica e confronta Nicodemos, fazendo-o refletir, dizendo: "[...] Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus". (João 3.3 ACF)
O que Jesus está dizendo para Nicodemos, é que não adianta você me honrar com palavras, reconhecendo que Eu Sou o Cristo (João 8.58), o enviado de Deus a Terra (João 1.29), se esta verdade que você proferiu não for o suficiente para mudar suas atitudes. Não basta proferir palavras de reconhecimento e verdades sobre quem Eu Sou, pois serão apenas palavras vazias, ao vento; é preciso andar como Eu ando. (1 João 2.6)
Foi o que João Batista disse aos mesmos fariseus: "E não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão." (Mateus 3.9 ARA)
O que João está dizendo é: 'Não pensem que o fato de serem descendência de Abraão é o suficiente para serem salvos. Isso não os torna privilegiados. Não adianta crerem nessa verdade na qual vocês dizem que estão firmados, se tais verdades não forem o suficiente para mudar suas atitudes. Foi o que Jesus disse em João 8.39 ao confrontá-los: “[...] Se vocês fossem filhos de Abraão, fariam as obras que Abraão fez." ( NVI)
Quando a Bíblia aborda sobre o tema novo nascimento, ou, regeneração, é algo que se refere ao nascimento espiritual de todo aquele que, abandonando os prazeres do mundo e suas próprias vontades, agora, por meio do evangelho, passa a ter contato com Jesus, reconhecendo sua justificação pela fé em Cristo. (Romanos 3.21-24) Dessa forma, suas vidas são transformadas. (João 8.32)
Embora Nicodemos fosse alguém letrado, mestre em Israel (João 3.10), ainda assim, os "olhos" do seu entendimento não estavam abertos para a verdade do evangelho. Nicodemos ainda encontrava-se "morto" para o evangelho que dá vida. (João 6.63) O seu encontro com Jesus foi um diferencial em sua trajetória; pois, a partir desse encontro, Ele começa a nascer para o evangelho. (João 7.50-51; João 19.3)
Quando Jesus proferiu a frase "nascer de novo", a palavra NASCER significa: - [na tradição judaica, de alguém que traz outros ao seu modo de vida, que converte alguém] (Número de Strong g1080); e a palavra traduzida como "de novo", aqui, tem vários significados: [de cima (do alto), novamente, e sob uma nova forma].
Só que existe um porém: "alguém que TRAZ outros ao seu modo de vida", e, nesse contexto, estamos falando de Jesus, é alguém que [CONDUZ e GUIA] para uma direção correta, para um destino correto, encaminhando o tal no crescimento espiritual; e, como podemos notar, existem três aspectos do novo nascimento:
1) É preciso nascer do alto
2) É preciso nascer novamente, significando repetidamente, continuamente
3) É preciso nascer até que o Evangelho de Jesus Cristo dê uma nova forma em nosso modo de ser (interior). (Romanos 12.2)
Nascer de novo não significa perfeição, muito menos, ausência de erros. Nascer de novo é todos os dias, repetidamente e continuamente, deixar-se ser mudado e moldado pela Palavra, que é o próprio Jesus, entendendo que Nele somos pessoas melhores (João 15.4-5); porque, uma coisa é sermos alguém por causa de Cristo; outra, totalmente diferente, é reconhecermos quem, de fato, nós somos. (Romanos 3.23) E, quem conhece sua natureza, reconhecendo que ela é suja e pecadora, chorará aos pés de Cristo (Mateus 5.4), dizendo: - Eu preciso nascer de novo!
Talvez você esteja enfrentando uma guerra interna por causa do pecado; talvez, até possa ter sido vencido pela tentação. Você se culpa, se frustra e não consegue se perdoar. Eu não estou sendo conivente com o pecado, muito menos quero fazer vistas grossas quanto a isso! O pecado afasta-nos de Deus e, como diz Hebreus 10.26-27: "Porque, se continuarmos a pecar de propósito, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados. Pelo contrário, resta apenas uma terrível expectativa de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários". (NAA)
Porém, como disse acima, você que guerreia contra o pecado e que chora porque desagrada ao Senhor todas as vezes que erra (Mateus 5.4), nesse dia Deus diz a você: - Continue todos os dias, repetidamente e continuamente, perseverando, querendo e buscando a melhora em mim, pois o meu perdão te alcança! (1 João 2.1-2)
"O grande mistério da religião não é a punição, mas o perdão do pecado: não é a permanência natural de caráter, mas a regeneração espiritual". - Beacon
Agora, perceba algo interessante: por que Jesus mudou seu discurso com Nicodemos, de: "[...] nascer de novo" em (João 3.3), para "[...] nascer da água e do Espírito" em (João 3.5)? Porque não existe novo nascimento, nem somos regenerados a uma nova vida em Cristo, se a Palavra e a atuação do Espírito Santo não estiverem presentes.
A água é a própria Palavra de Deus. Por isso Jesus disse que: "[...] aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna". ( João 4.14 ACF)
Em João 15.3 diz: "Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado". (ACF)
Em Efésios 5.26 diz: "Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra". (ACF)
Em Tito 3.5 diz: "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo". (ACF)
Que explicação linda de Jesus ao mestre de Israel, Nicodemos. Imagino o seu espanto (João 3.7) enquanto o mestre dos mestres lhe dizia essas coisas. Jesus pensava, falava e agia acima da religiosidade de sua época. Por isso, os fariseus hipócritas, e muitos, ficavam perplexos com a Sua forma de enxergar as coisas.
Veja: Jesus, no sábado, colhia espigas com seus discípulos, para saciarem suas fomes (Marcos 2.23); num dia de sábado, na sinagoga, curou um homem com a mão mirrada (Marcos 3.1-5) e uma mulher que andava encurvada a dezoito anos (Lucas 10.13-16). A uma mulher que foi pega em ato de adultério, e que a trouxeram até Ele para a apedrejarem, disse: "Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela" (João 8.7). Os fariseus tinham a letra, Jesus tinha a letra (Palavra) e o Espírito que dá vida. (João 6.63)
Todas essas atitudes de Jesus provam somente uma coisa: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito". (João 3.6)
Beacon diz: "O gerado sempre é semelhante ao que o gerou. A aliança antiga só pode produzir a vida antiga. A escuridão gera a escuridão. A lei, que é para aqueles que estão sem lei, não pode gerar uma vida boa. Se alguém quer ter vida, a fonte deve ser o Espírito. A preposição usada nesta última frase é muito clara. Uma tradução literal seria "O que é nascido a partir do Espírito é espírito".
As coisas não estavam muito boas para Nicodemos. Creio que ele compreendeu, em parte, aquilo que Jesus estava lhe dizendo; porém, como disse anteriormente, seus olhos espirituais estavam obscurecidos para a verdade do evangelho.
"Provavelmente é algo significativo para João, que Nicodemos, o qual procurou Jesus na calada da noite, veio também em trevas de entendimento. [...] João, porém, mostra que as trevas espirituais podem ser remediadas - por meio da fé em Cristo, a luz que veio ao mundo". (João 3.16-21; 1.6-9; 8.12; 9.5) Fonte: (Quem é quem na Bíblia sagrada, pág. 489. Tema: Nicodemos)
Jesus então, continua dizendo a Nicodemos o que acontece na vida daquele que tem a Palavra e o Espírito: "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito". (João 3.8)
O que, primeiro, precisamos notar, é que o vento é um fenômeno da natureza, invisível. Ainda que possamos ouvi-lo assoprando, não sabemos de onde ele vem, nem para onde vai. Nenhum ser humano, ainda que seja dotado de grande inteligência e estudo, pode dizer o caminho do vento. Como disse: é algo que não pode ser visto!
Dessa forma, Jesus nos explica que o novo nascimento é como o vento. É algo invisível. Não pode ser visto. A gente até ouve seu assoprar e vemos o balançar das folhas nas árvores; e percebemos que é o vento no desarrumar dos cabelos; então, quando olhamos para uma pessoa e enxergamos nela uma significativa mudança, mas não sabemos como esta ocorreu, então podemos afirmar: "É obra do Espírito!"
Ore comigo: 'Pai, aprendi que não existe novo nascimento nem regeneração sem a Palavra e a atuação do Espírito Santo. Ajuda-me a priorizar Tua Palavra e a comunhão com o Teu Espírito para que eu tenha vida e vida em abundância. Oro em o nome de Jesus. Amém!'