Certa vez, à tardinha, fui à padaria para comprar pão. Lembro-me que, nessa ocasião, minha família e eu estávamos enfrentando momentos muito difíceis, e precisávamos tomar algumas decisões importantes, como procurar um novo lugar para morar de aluguel, já que a nova casa onde estávamos a um mês, por causa de alguns problemas, infelizmente, teríamos que sair.
Enquanto caminhava até a padaria, pensei: "Ainda tenho que trabalhar amanhã". A verdade é que amo o que faço. Sou vendedor numa livraria evangélica e sei que o próprio Deus me levou para aquele lugar com um propósito. Porém, por causa desses eventos adversos, o que, de uma certa forma, acaba nos cansando emocionalmente e fisicamente, pensei negativamente com relação ao meu trabalho.
Logo após esse fato, rapidamente clamei a Deus, dizendo: "Senhor, fala comigo! Me ensina algo!" Eu ainda não havia chegado à padaria e, nesse trajeto, uma árvore me chamou a atenção. Eu simplesmente não parava de olhá-la, suas folhagens, raízes, e o lugar onde estava plantada; até que, em fração de segundos, o Espírito Santo trouxe algumas verdades ao meu coração. Foi tão rápido que fiquei maravilhado!
Veja: essa árvore linda que vi com suas raízes grossas e de belas folhagens estava plantada ali há algum tempo. Ela não reclamou com quem a semeou por plantá-la naquele lugar. Ela, simplesmente, veio à vida, brotou, firmou suas raízes e, creio que o fato dela estar numa boa terra, também cooperou para o seu avanço e crescimento.
A verdade é que somos como sementes e Deus é o semeador. É Ele quem decide onde nos plantar; e, o lugar onde fomos plantados por Ele deve ser motivo de alegria para nós. (Filipenses 2.13) É justamente nesse lugar que devemos firmar nossas raízes, crescermos, darmos frutos e sermos gratos a Ele por estarmos cumprindo Seu propósito. (2 Timóteo 1.9)
Uma vez ouvi de um pastor, amigo meu, pastor Cleverson Barros, a seguinte frase: "Leandro, a terra onde Deus não te plantou você perde tudo; mas a terra onde Ele te plantou você ganha tudo". Qual é o lugar onde Deus tem resolvido, de acordo com Sua vontade, nos plantar? Num emprego, escola, casa, faculdade, na vida de alguém, em determinada instituição ou igreja?
A Palavra de Deus nos fala a respeito de uma mulher muito conhecida, chamada Noemi, e seu esposo, Elimeleque. Noemi significa: [amável, formosa]; e Elimeleque significa: [Jeová é meu Rei]. Conta a história que houve uma grande fome na terra de Israel. Elimeleque e sua esposa moravam, na ocasião, em Belém de Judá, que significa: [casa do pão], e foram morar algum tempo na terra de Moabe, que significa: [desejo]. (Rute 1.1)
Moabe era uma terra ao leste do mar morto. Esta nação oprimiu Israel na época dos Juízes, e foi justamente para esse país opressor e para um povo inimigo da nação de Israel que Elimeleque, esposa e filhos foram morar. Diz a Palavra que "Eglom se juntou com os filhos de Amom e os amalequitas, foi e derrotou Israel. E eles se apoderaram da cidade das palmeiras. E os filhos de Israel serviram Eglom, rei dos moabitas, durante dezoito anos". (Juízes 3.13-14 NAA)
Às vezes aquilo que carregamos é abafado por causa das circunstâncias difíceis que enfrentamos e acabamos por agir à nossa própria escolha, sofrendo as consequências dos nossos atos. Como disse, Elimeleque significa "Jeová é meu Rei", mas ele não priorizou Deus, consultando-O sobre esta decisão de se mudar da "casa do pão", ou seja, do lugar da provisão, para o lugar onde o seu "desejo" o estava impulsionando a ir por causa daquela grande fome. Veja: Todas as vezes que o nosso desejo for maior que a vontade de Deus para nós, perderemos um precioso tempo até que voltemos ao lugar que, de fato, deveríamos estar ocupando.
Uma vez que esta família se estabeleceu em Moabe, depois de algum tempo, Elimeleque morre, deixando Noemi e seus dois filhos. Estes se casaram com mulheres moabitas, cujo nome de uma era Orfa e o nome da outra era Rute. Eles ficaram ali quase dez anos. Depois, os dois filhos de Noemi morrem, ficando apenas ela e suas noras. (Rute 1.2-5) Ainda em Moabe, se ouviu que o Senhor se lembrou do seu povo, dando-lhe alimento. Então, Noemi e suas noras voltam dos campos de Moabe (Rute 1.6), embora, apenas Rute, a moabita, prosseguiu com Noemi até Belém. (Rute 1.16)
Noemi é um clássico exemplo de quem se acostumou a viver longe da "casa do pão", que, simbolicamente, representa Cristo, o pão vivo que desceu do céu. (João 6.51) Ela se afastou junto à seu esposo e filhos de onde não deveriam jamais ter se afastado. Embora estejamos usando nessa mensagem uma figura de linguagem de que o lugar onde Deus nos plantou, esse é o lugar da provisão, necessitamos também entender que Jesus é o pão da vida e jamais deveríamos nos afastar dEle. É Ele quem nos sacia espiritualmente. (João 6.35)
Morar em Moabe simboliza se separar da fé. É abandonar nossos princípios e valores. É esquecer quem somos Nele (Efésios 1.11). É se afastar da presença. É não aguentar as adversidades estando dentro da casa do pão com a própria provisão que é Cristo, mas procurando refúgio longe dEle. O pior disso tudo é não consultá-LO e deixá-LO de lado. Morar em Moabe é dizer pra Cristo que ao menor sinal de aflições O deixaremos e seguiremos nossos próprios desejos. Todo aquele que se afasta de Cristo corre o risco de morrer levado pelos seus próprios desejos, principalmente, espiritualmente. (Provérbios 14.12)
Quando Noemi e Rute chegam a Belém, as pessoas ficam surpresas, para não dizer espantadas, perguntando se esta que chegava era a mesma Noemi que uns anos antes tinha saído daquela região. (Rute 1.19) Sim, era a mesma Noemi. Porém, havia algo de diferente nela: Noemi carregava em seu rosto as marcas de uma vida sofrida e fora da direção divina, e essas marcas davam testemunho das dificuldades que experimentara.
Existem duas maneiras de cumprirmos nosso chamado: da maneira correta, obedecendo a Deus, permanecendo onde Ele nos plantar, independente de qualquer situação adversa, e sendo bem sucedidos por causa dessa escolha; ou, indo após nossos próprios caminhos e desejos, o que, inevitavelmente, nos causará sofrimento, dor, e perda de um precioso tempo.
As experiências em Moabe foram tão ruins que Noemi não gosta de ser chamada pelo nome. Veja: "Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso". (Rute 1.20)
Há um ponto nessa frase de Noemi que precisa ser analisado. Segundo o comentarista Warren W. Wiersbe, diz: "O retorno delas comoveu a cidade, pois Noemi mudara muito. Notamos aqui um espírito amargo em relação ao Senhor? Ela culpa Deus por suas provações? Com certeza, esses versículos advertem o apóstata (grego: o que se afasta) do alto custo que acarreta contrariar a vontade de Deus".
Rute 1.21 Noemi expressa a seguinte frase, talvez, de arrependimento: "Cheia parti, porém vazia o SENHOR me fez tornar. [...]".
Havia fome na terra, o cenário não era dos melhores, porém, ainda que estivessem debaixo de adversidades lá em Belém, quando a fome instaurou-se, eles tinham mais que o necessário para sua subsistência. A prova disso é o que Noemi diz: "cheia parti". Sim, concordo com ela! Ela partiu para Moabe cheia, desfrutando a presença do esposo e filhos e, segundo comentaristas, Elimeleque era um homem de elevada importância e fortuna, o que, com toda certeza, ele levaria para a sua viajem tudo que fosse indispensável para uma nova vida em outro país. Alguém que está "cheio" é alguém que está "farto" e "que contém tudo aquilo de que é capaz".
O grande mal de colocarmos o nosso foco nas situações ruins que nos sobrevêm é não enxergarmos aquilo que temos ao nosso alcance e que está à nossa disposição para usarmos e, com isso, sermos gratos a Deus. Se Deus, pela Sua infinita graça e misericórdia, nos coloca em determinado local e, de repente, a "fome" nos atinge, então, devemos pedir a Deus força para continuarmos no lugar onde Ele nos plantou, firmarmos nossas raízes e produzirmos frutos.
Lembre-se: somos como sementes e não temos o direito de dizer ao Todo Poderoso: "Não me plante aqui!". É Ele quem sabe onde nos plantar para que floresçamos.